Teatro


Noutros tempos, a cidade de Lisboa parava e havia uma ansiedade de assistir às novas peças de teatro.
Ouvir as pancadas de Molière e saber que dali iriam sentir-se mais vivos, o teatro faz-nos Sentir.
As senhoras colocavam as suas melhores indumentárias, arrumavam os cabelos e os senhores vestiam-se todos janotas com os sapatos engraxados e ir ao teatro era um grande acontecimento.

Fui ao teatro ontem e é triste ver uma sala vazia, estava um terço dos lugares ocupados, tenho pena que os jovens não tenham vontade de ver estas peças, prefiram os cinemas e tudo o que vem de fora.
Se pudessem eles sentir o que sinto quando assisto a estes espectáculos.

Vi Gisberta, com a actriz Rita Ribeiro a interpretar a mãe da transexual Gisberta que foi brutalmente espancada durante três dias por vários adolescentes, lançada a um poço de um prédio em obras, onde acabou por morrer afogada. 
É um discurso de uma mãe em sofrimento, que teve uma vida difícil e que acabou por ter um filho diferente.
"O meu menino..."; "Não me chames isso mãe!"    

Foi devastador, dilacerante, desconcertante, porque faz-nos sentir todo o sofrimento de uma mãe e a sua impotência em ajudar e proteger o seu filho, que foi torturado até à morte. E viu a dignidade do ser que gerou ser-lhe roubada pelos tribunais, polícias... As notícias falavam de um homem travesti Gisberto, sem provas que tivera morrido das agressões, no óbito só constava a morte por afogamento. Um crime de ódio que ainda hoje causa revolta. 
Não era Gisberto, quem morreu foi Gisberta.

Escusado será dizer que as lágrimas corriam-me pelo rosto, mesmo depois de ter saído da sala. 


Viva o Teatro e mantenham o teatro vivo!
Miss Margot



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3 comentários

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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    1. Deixe-me fazer uma correção à minha própria correção, mas estes corretores automáticos tiram-me do sério:
      Onde se lê ''por e simplesmente'' deve ler-se ''pura e simplesmente''.
      Peço desculpa.

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  2. Peço desculpa, apaguei o seu comentário sem querer "Anónimo".
    Queria agradecer a sua revisão ao texto e os seus apontamentos sobre os erros graves que encontrou, foram todos corrigidos :)
    1- As pancadas de Molière
    2- A vírgula terrorista
    3- "ser-lhe" roubada, corrigido e sem a vírgula
    4- Os policiais, por polícias.

    Muito obrigado :)

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